segunda-feira, 26 de setembro de 2011

Fotos

Postando umas fotos minhas de um evento no Facebook fez o pensamento voar até o início dos anos 90, na época das "bandas de garagem". Quem não teve uma banda e ensaiou na garagem, onde o pai guardava o carro? Bom, quem não teve "tinha" vontade de ter. Mas a história não tem nada a ver com garagem, pelo menos neste post e sim, com as fotos que a gente tirava, dos músicos mesmo. Sempre na hora da pose, que era cuidadosamente encenada, o cara da guitarra ou do violão devia "desenhar" no braço do instrumento um acorde dissonante. Uma "aranha" para os menos estudados. Essa imagem indicava técnica e conhecimento para quem via a foto. Mesmo que o músico exibido não soubesse muita coisa(risos). Não eram aceitas fotos com acordes primários, os acordes mais simples. Acredito que essa moda veio lá da bossa nova, onde os acordes eram mais complexos.
Imagina, acreditar numa foto? É cada uma, né? Hoje em dia pelo menos tem o Photoshop que faz a gente acreditar mesmo...

terça-feira, 6 de setembro de 2011

Vivendo, amando e aprendendo

Era uma vez um sujeito que prezava demais a validade das coisas. Como nos produtos, tudo em sua vida tinha prazo de validade. Seus relacionamentos, seu cotidiano, suas palavras... era monossilábico por natureza. Tudo um dia iria acabar.
Não se sabe ao certo sob que circunstâncias ele nasceu mas, casou só uma vez achando que o "sim" era uma contagem. Sua esposa contava os dias para que ele finalmente esquecesse tudo aquilo e de nada adiantou. A separação foi inevitável.
Quando ia ao supermercado observava com afinco a validade do que comprava. E um dia antes do prazo do tal produto vencer, ele jogava fora.
Na adolescência namorou algumas vezes embora acreditasse que o amor era vago. Começo, meio e fim. Novela, filme, tudo igual. Mocinho, bandido, megera e final feliz. A vida era um inseto, pronto pra ser esmagado a qualquer instante.
Notava sua familia, seus vizinhos... todos vivendo da melhor forma que podiam. Pensava: 'tolos, não sabem que a vida vai acabar'!
Nunca cantava ou dançava, afinal a música tinha fim. Uma vez disse um amigo: ora, é só tocar a música de novo! E ele respondeu: e você vai toca-la até quando?! (longo silêncio)
Com muito custo conseguiu se formar na faculdade, mesmo sem muitos amigos e o descrédito dos professores.
Uma das únicas coisas que ele cuidava para que não acabasse era o dinheiro. Poupava, e como. Tinha juntado bastante. O suficiente. Trabalhava e isso não importava. O fim do dia sempre chegava e a noite também.
A vida, o tempo, as coisas... eram de porcelana. Mais cedo ou mais tarde. Não importa. O final vencia.
Já tinha passado da metade da expectativa de vida nacional quando descobriu que tinha câncer. Lhe restavam alguns anos. Mas por que se preocupar agora. O "the end" chegaria mais cedo. Tinha passado a vida se preparando e esperando, esperando. Já estava cansado.
Fez o testamento. Deixava tudo para a familia. Tudo o que passou a vida juntando.
Uma noite não conseguiu pegar no sono e pensou que havia feito tudo errado. Não importava que as coisas tivessem fim, ele deveria ter aproveitado o que a vida ofereceu.
Resolveu mudar radicalmente. Agora tinha certeza de que a vida ia esfarelar.
Começou a viver... bebia, cantava, dançava, escutava música no talo. Passou a comer coisas que nunca havia comido. Viajou pra lugares que nunca sequer imaginava que existiam. Saltou de bungee jumping, paraquedas, aprendeu a pilotar, tocar violão, piano, guitarra, cítara... Se ocupava a maior parte do tempo possível enquanto fazia as sessões de radioterapia.
Dois anos se passaram e seu câncer havia regredido. Os médicos não sabiam explicar por que. E ele seguiu aproveitando até os dias de hoje.
As coisas continuavam com seus prazos de validade mas ele aprendeu o valor da vida vivendo, amando e aprendendo.


Esta é uma história de ficção mas poderia ser verdade!