sábado, 17 de outubro de 2009

No meu tempo

No meu tempo, no lugar onde morava com meus pais, de vez em quando faltava luz. Ficava mais de hora. E quando ela voltava tinha até torcida.
No meu tempo farmácia vendia só remédio. O jornal de domingo só era comprado no domingo de manhã. Carne a gente comprava no açougue. Frutas e verduras na fruteira. 
No meu tempo não existia sacolas plásticas nos supermercados. Havia mais enlatados nas prateleiras.
No meu tempo voltava-se pra casa à pé de madrugada. Deixava-se portas e janelas destrancadas ou abertas. Roupas podiam ficar no varal.
No meu tempo as letras das músicas pareciam ter mais poesia. As músicas pareciam ter mais melodia.
No meu tempo precisava gravar a música que queria aprender numa fita cassete e repeti-la várias vezes para decora-la.
No meu tempo não era obrigatório usar capacete pra andar de moto. Tirar carta de motorista não era tão caro. Nem tão difícil. Os carros não vinham com tantos acessórios, cheios de botões.
No meu tempo o limite de velocidade nas estradas era 80 km por hora. Quando viajávamos à Porto Alegre nessa velocidade eu, sinceramente, não me importava que o tempo passasse devagar.
No meu tempo não acreditava que existia o outro lado do mundo: achava que o mundo era só Uruguaiana, Alegrete, Itaqui, Porto Alegre e Paso de Los Libres, na Argentina. Mais tarde quando fui à praia pela primeira vez, comecei a desconfiar.
No meu tempo tudo que passava na televisão era maravilhoso. Principalmente os filmes da sessão da tarde.
No meu tempo só morriam os mais velhos. 
No meu tempo não morria tanta gente assim.
No meu tempo tinha Playmobil, Ferrorama, Autorama, modelos Revell, Jogo da vida, Banco Imobiliário, Genius, Atari, Hanna Barbera, PacMan, Magnum, Mcgyver, Os Trapalhões, Xuxa, Scooby Doo, máquina de escrever, Telex, cartas com selos...
No meu tempo antes de beijar se pegava na mão.
No meu tempo existia mais inocência. No meu tempo a gente era criança por mais tempo.
Se no meu tempo era assim imagina no tempo do meu avô!
Tchê end!