terça-feira, 6 de julho de 2010

Cide Güez - Seu piano, sua arte

Difícil encontrar palavras que descrevam o que estou sentindo neste momento! Recebi a notícia de sua falta no sábado, minutos antes de subir ao palco. Estava em Cachoeira do Sul, onde eu e mais um amigo íamos tocar num barzinho local. Não sabia disfarçar! Tive que respirar fundo e seguir em frente. Começar o show!
Cide Güez foi mais do que um excelente pianista para mim. Foi um mestre. Um pai que orienta um filho. A pessoa que despertou em mim a paixão pela boa música! Um dicionário de acordes ambulante! Até hoje nunca vi ninguém tocar a mesma música em diferentes tons como ele.
Fui seu aprendiz! Comecei tocando baixo em seu trio! Era uma verdadeira "tortura", tocar aquelas músicas com inúmeras notas! Mas sabia de que se tratava de uma prova de fogo! Nunca me considerei um bom baixista mas, o Cide dizia que estava legal! Então eu continuava! E to aí até hoje! E acredito que ele seja um dos responsáveis! Bebi em sua fonte, aprendi com ele!
Sempre que eu ia à sua casa, me oferecia alguma coisa pra beber: aceita um café, chá? - dizia ele! E eu respondia: capaz! Palavra que foi utilizada em cartas escritas por ele, na época que eu havia me mudado pra cá. Sempre que nos encontrávamos lembrávamos do "capaz"(risos)!
Quando entrei em seu apartamento pela primeira vez, fiquei maravilhado com a quantidade de objetos de decoração! Cide colecionava "coisas", desde placas de trânsito, estatuetas, troféus, bibelôs, quadros, pinturas, desenhos! Era lindo! Podia passar uma tarde ali, vendo suas coisas, fazendo parte de seu mundo!
Adorava ver suas fotografias! Fotos dos tempos de conjunto, shows em diversas cidades e países do Mercosul! Gostava muito de um álbum em particular de uma viagem que Cide e mais 2 amigos fizeram até o estado do Amazonas. Parece que foram até o Rio de Janeiro num Fusca e, de avião até a floresta Amazônica. Não lembro muito bem, só lembro que pedia pra ele me mostrar esse álbum diversas vezes. Tinha a história em que ele visitou uma aldeia de índios e queria trazer um indiozinho com ele! O Cide falava: vou te levar comigo! E o indiozinho respondia: não sei, não sei! O indiozinho só sabia falar essas duas palavras(risos)!
Cozinhava um peixe melhor que muitos Chefs de cozinha! Uma vez fez um banquete no meu aniversário, num restaurante de outro amigo nosso!
Cide era realmente muito talentoso! Desenhava, pintava!
Era extremamente apaixonado por Tom Jobim e Ivan Lins! Gostava de boa música!
A última vez em que nos vimos foi em fevereiro deste ano, no carnaval! Fui à Uruguaiana, minha terra natal, rever os amigos, descansar, enfim. Na noite de chegada decidi sair pra jantar com minha mãe e, quando estavamos no centro, enxergamos Cide atravessando a rua. Convidei-o pra entrar no carro e fomos nos sentar num restaurante ali perto, com mesas na calçada! Conversamos por horas. Me colocou a par das "fofocas" cotidianas da cidade. Depois ainda o deixei em casa. Marcamos pra nos ver 2 dias depois, eu, ele e mais um amigo!
Na noite do encontro falamos bastante, relembramos histórias e mais histórias! Rimos muito!
Quando fui deixa-lo em casa, não sei exatamente por que, num ímpeto de desabafar, quis lhe agradecer por tudo o que tinha feito por mim, por ter me ensinado e que eu devia muito a ele! Desceu do carro e caminhou em direção a portaria do prédio! Tive a nítida sensação de que nos veríamos novamente!
Não sabemos por que razão Deus escolhe as pessoas para colocar em nossas vidas! Mas acredito que algumas tem a missão de nos ensinar e mostrar o melhor caminho! 
Vai em paz, amigo!

2 comentários:

Cozinhando com a Ale disse...

Lindo, emocionante... me fez lembrar de alguns grandes e queridos amigos, que a seu tempo foram "mestres" na formação da minha personalidade e escolhas de vida.

Anônimo disse...

Caro Marcelo, concordo e agradeço imensamente as tuas palavras sobre meu tio. O jornal momento de Uruguaiana faz várias homenagens para o Cide: jornalmomentodeuruguaiana.com.br

Alvaro Güez Velo
alvaroguez@hotmail.com